JULLIANE SILVEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA SÃO PAULO
16/10/2016
Decidir montar escritório e, no dia seguinte, já ter móveis, equipamentos e até colegas. Essa é uma das razões que levam profissionais a alugar uma cadeira num coworking, escritório compartilhado cada vez mais comum.
Dos 378 espaços desse tipo no país, 140 foram abertos nos últimos 12 meses, segundo pesquisa do portal Coworking Brasil. “Há um crescimento intenso de oferta desses locais”, diz Fernando Aguirre, fundador do portal.
Além da comodidade e do custo mais baixo que o de um escritório próprio, outro fator impulsiona o crescimento da modalidade: o networking.
“Tenho dificuldade de entender por que alguém ainda prefere se isolar num escritório”, diz Sérgio Serapião, 42. O empreendedor social fechou a sede de sua empresa há quatro anos para trabalhar em um coworking com o sócio. Hoje, aluga quatro estações de trabalho e criou uma rede de parceiros para execução dos projetos.
Serapião conquistou clientes e fez parcerias com pessoas que conheceu no ambiente de trabalho. “Ocorrem encontros ótimos, que podem se tornar um negócio, um cliente ou uma amizade.”
Ou até um sócio, como ocorreu com o publicitário Bruno Moretti, 34. Depois de oito meses em um coworking, decidiu abrir uma agência de gerenciamento de marcas com o gestor de projetos que trabalhava na mesa ao lado. Os primeiros clientes também estavam no escritório compartilhado, onde a nova agência funcionou por mais um ano e três meses.
“Descobrimos como é trabalhar de forma colaborativa”, diz Moretti. Hoje, a empresa está num escritório próprio, mas os sócios ainda frequentam dois serviços de coworking para palestras e eventos. Assim, mantêm a rede de relacionamentos.
A locação de uma estação de trabalho custa R$ 800 por mês, em média. O serviço de endereço comercial e atendimento telefônico têm preço médio de R$ 200, e a locação de sala de reuniões gira em torno de R$ 50 por hora.
A GoWork, que tem oito estações de coworking na cidade de São Paulo, cobra cerca de R$ 11 mil por ano por uma mesa de trabalho.
JUNTO OU MISTURADO
Prós e contras de trabalhar dentro de casa ou em um espaço compartilhado
HOME OFFICE |
X |
COWORKING |
É mais prático. Não é preciso se deslocar para o trabalho — o que em cidades grandes pode fazer muita diferença |
PRATICIDADE |
Mesmo que o local escolhido seja próximo de casa, é preciso considerar o tempo gasto no trânsito |
É mais difícil conhecer pessoas, trocar ideias e fazer networking. É uma boa opção para quem já tem clientes ou presta serviço para empresas específicas |
CONTATOS |
Os escritórios compartilhados possibilitam conhecer pessoas de diversas áreas e promovem eventos, em que é possível trocar ideias e até mesmo fechar negócios |
Em casa o profissional pode se sentir mais à vontade para lidar com assuntos sigilosos |
PRIVACIDADE |
Alguns espaços já alugam salas privativas para quem trabalha com dados secretos, mas não são todos |
É preciso disciplina para não se envolver com assuntos domésticos e particulares durante o expediente. |
DISTRAÇÕES |
Fica mais fácil se concentrar em um ambiente corporativo — desde que os colegas não sejam falantes demais |
É mais apropriado para profissões que profissões que exigem poucos equipamentos |
INFRAESTRUTURA |
Profissionais que precisam de maquinário específico (como engenharia e design) podem alugar equipamentos por hora |
Sai mais barato do que alugar um espaço, mas é preciso considerar gastos com telefone e internet, além da aquisição de equipamentos e softwares específicos |
PREÇO |
O valor médio de uma cadeira no Brasil é de R$ 800. Em geral, o profissional precisa levar seu computador já equipado com os programas necessários. |
Fontes: Fernando Aguirre, fundador do portal Coworking Brasil, e Gilberto Safarti, professor da Escola de Administração de Empresas de Fundação Getúlio Vargas
A empresa fez um levantamento de custos em escritório particular na capital paulista e chegou ao valor médio de R$ 17,4 mil anuais por cadeira, levando em conta gastos com manutenção.
“Estar em um coworking possibilita conexões que seriam mais difíceis de criar de outras formas, permite troca de ideias, relações afetivas e, no final das contas, negócios”, avalia Gilberto Safarti, professor da Escola de Administração de Empresas de Fundação Getulio Vargas.
EM CASA
Já quem não faz questão de criar conexões, quer reduzir gastos ao mínimo ou trabalha com informações sigilosas, pode fazer home office e alugar serviços específicos de endereço comercial e salas de reuniões em coworkings quando necessário.
Foi a opção da consultora financeira Natália Amaral, 30, que decidiu conter gastos após um ano em um escritório compartilhado. Agora, trabalha em casa e vai ao local apenas para reuniões. “Consegui clientes e até meu contador lá”, conta.
“Trabalho em casa para me reorganizar”, afirma.
Mesmo quem precisa de privacidade pode estar em coworking, nas salas fechadas, diz Jorge Pacheco, fundador da Plug. A locação de ambientes privativos é tendência nesse mercado: hoje há 840 salas privadas no Brasil, contra 122 em 2015.